Chappie é um robô. Não um robô comum, programável pelo ser humano. Ele é quase humano, na medida em que seu cérebro eletrônico é capaz de desenvolver-se, por si só, e criar, única característica que nos difere das máquinas e dos outros animais.
Chappie, uma vez ativado, desenvolve-se como um bebê, só que muito mais rápida e eficientemente. E atinge todas as metas humanas, com muito mais perfeição.
As outras máquinas já faziam isso, repetiam comandos programados, com mais eficiência, precisão, rapidez do que seria capaz qualquer ser humano. Mas não criavam.
Chappie aprende, por repetição, no início, como qualquer ser humano, para, em seguida, uma vez dominado o conhecimento, passar a criar. E é aí que entra o medo da inteligência artificial.
O ser criativo tem livre arbítrio e é responsável por suas ações e omissões. Será que esse robô criativo é responsável? Tem alma? Quem julgará suas ações? E seu criador humano é Deus? O filme Blade Runner já havia abordado essa angustiante temática.
O filme Chappie é uma bela fábula, em que, metaforicamente, a criança, o adolescente, o jovem e até os adultos ingênuos e bem intencionados estão representados no robô dotado de inteligência artificial, chamado Chappie. Sua ingenuidade, credulidade, inexperiência, seus valores absolutos, entram em confronto direto e transformador com a realidade multifacetada do mundo adulto, mentiroso, hipócrita, violento e corrompido, onde se mudam os nomes, para que não se mudem as ações criminosas. Chappie se admira e grita: por que eles se machucam tanto?
Uma importante mensagem que o filme traz, também, é a ideia de que o valor de uma pessoa não está na sua forma física, mas em sua consciência, que é o que, de fato, ela é. Pode-se mudar o corpo, que você continua lá, o mesmo. E é isso que é essencial. Isso que vale a pena. Isso é que fica, é o legado.
Múltiplas vivências me levam a sentir muita compaixão pelas crianças, pelos adolescentes, pelos jovens, e também por muitos adultos, tão bem representados, nessa fábula, pelo robô Chappie. São usados em propósitos criminosos, travestidos de boas ações, por seu senso de justiça e por seu idealismo.
Só me resta gritar, desesperadamente, como o personagem do cientista criador do robô: não cometam crimes! Não deixem que ninguém destrua a sua criatividade!
Esse é o legado!
Rosilma Roldan